Logo quando nascem as crianças podem apresentar algumas deformidades dos pés. Grande parte delas vão acontecer por conta da posição que a criança estava no útero, pois lá o espaço é limitado para a postura dos pés da criança, que normalmente nascem "virados para dentro". Na maior parte desses casos, os pés tendem a ser flexíveis e com massagens diárias é possível corrigir a postura sem necessidade de outros tratamentos ortopédicos. Essa deformidade chamamos de pé torto postural.

Porém em uma a cada 1000 crianças nascidas vivas tem o que denominamos de pé torto congênito (em inglês, congenital clubfoot). Em até metade dos casos a deformidade acomete os dois pés. Nestes casos os ligamentos dos pés estão mais rígidos e apenas a massagem realizada pelos pais ou cuidar dores não é capaz de trazer de volta na sua posição.

Tecnicamente são quatro posições que caracterizam pé torto congênito o cavo do mediopé, o aduto do antepé, o varo do retropé e o equino do tornozelo. Traduzindo: o cavo é quando a dobra no meio da sola do pé fica muito proeminente; o aduto é quando a ponta do pé vira para dentro; o varo acontece na região do calcanhar, e contribui para que o pé vire para dentro; e o equino é a posição do tornozelo quando ficamos na ponta dos pés. A ordem para descrever essas alterações Cavo, Aduto, Varo e Equino - CAVE - dita a ordem de tratamento da deformidade.

O diagnóstico do pé torto congênito é feito através da avaliação clínica, e pode ser feito ainda na maternidade, pelo ortopedista pediátrico. Para o diagnóstico do pé torto congênito idiopático não há necessidade de exames de imagem, como radiografias ou ressonância magnética, para confirmação do diagnóstico. Nos pacientes com pé torto teratológico, que são aqueles que são causados por outras doenças, como a mielomeningocele e a artrogripose, os exames complementares têm papel na avaliação dessas patologias, mas não no diagnóstico da deformidade dos pés.

O tratamento para o pé torto congênito é feito pelo método de Ponseti, que se divide em 3 etapas:

1. A manipulação seriada do pé pelo ortopedista e confecção de gesso que vai do pé até o quadril semanalmente. Este processo pode levar de 4 a 6 semanas nos pacientes com pé torto idiopático.

2. A tenotomia do tendão de Aquiles (ou tendão calcâneo), que fica na parte de trás do tornozelo. Trata-se de uma pequena cirurgia onde é feito o corte completo deste tendão para permitir que o tornozelo fique livre para podermos trazer a ponta do pé para cima. Este procedimento pode ser realizado com anestesia local, no consultório, ou com uma sedação em centro cirúrgico. O tendão, em crianças pequenas, têm a capacidade de cicatrizar completamente durante o pós operatório, no qual a criança ficará imobilizada por 4 semanas seguidas com o gesso até o quadril.

3. O uso da órtese de Dennis-Brown. Nos primeiros 3 meses após a retirada do último gesso o uso da órtese é de 23 horas por dia, ou seja, o bebê poderá tomar banho e fazer exercícios de alongamento dos pés e tornozelos. Depois deste período, até os quatro anos de idade o uso recomendado da órtese é de 12 horas por dia, sendo que seu uso é sempre recomendado enquanto a criança estiver dormindo, ainda que ultrapasse este tempo. A fisioterapia é de grande importância na vida da criança nesta fase pois auxilia a recuperar algumas etapas do desenvolvimento, como rolar e se arrastar, além de garantir o ganho de força e movimento mais apropriados para os pés.


O tratamento pode ser iniciado logo nas primeiras semanas de vida, mas é comum esperarmos a criança completar 1 mês para iniciar a manipulação. Isso acontece para que a família, e especialmente a relação mãe-bebê, estejam mais adaptados à nova rotina com um recém nascido em casa. Além disso, há questões técnicas, como maior risco de lesões na pele do bebê, causada pelo gesso, e a dificuldade em manipular um pé ainda muito pequeno.

Como consequência da patologia, frequentemente a criança tem o pé e a perna afetados com o pé torto menores que o outro, e que exista diferença de tamanho entre os pés mesmo quando ambos são afetados. Os principais objetivos do tratamento são que os pés sejam flexíveis, que apoiem bem a sola do pé no chão quando de pé e andando, indolores e capazes de calçar um sapato.

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